A 6 de Janeiro de 2006, morre, no Porto, a escritora e tradutora portuguesa Ilse Losa.
Havia nascido a 20 de março de 1913, em Buer, uma pequena aldeia alemã localizada a 125 km de Hannover.
Filha do casal judeu alemão Artur Lieblich e de Hedwig Hirsch Lieblich, é criada, em criança, pelos seus avós paternos Joseph e Fanny, que se encarregam da sua educação.
Anos mais tarde, volta a viver com os seus pais e com Ernest e Fritz, seus irmãos mais novos.
Estuda nos liceus de Osnabrück e Hildesheim e, posteriormente, no Instituto Comercial de Hanôver.
A morte do pai, vitimado por doença oncológica, deixa a sua família com muitas dificuldades económicas, levando Ilse a partir para a Inglaterra em 1930, a fim de arranjar um trabalho com o qual pudesse ajudar a sustentar os seus familiares.
Nesse país, cuida, durante um ano, de crianças e tem os primeiros contactos com estabelecimentos de ensino infantil, o que mais tarde em muito contribuiria para a sua propensão para escrever livros para crianças. Simultaneamente, aperfeiçoa o seu inglês.
De regresso à Alemanha, encontra o seu país natal envolto na ideologia nazi, com constantes ataques antissemitas. Na sua qualidade de judia, é ameaçada pela Gestapo de ser conduzida a um campo de concentração.
Consegue fugir da Alemanha com a sua mãe, chegando a Portugal em 1934, sendo acolhida na cidade do Porto pelo seu irmão Fritz que já ali vivia consorciado com Florisa Estelita Gonçalves de quem tivera duas filhas: Sílvia e Ângela.
Em 1935, adquire a nacionalidade portuguesa através do seu casamento com o arquiteto Arménio Taveira Losa. Nesse ano, integra uma associação apolítica e não religiosa de mulheres antifascistas e antibélicas, a Associação Feminina Portuguesa para a Paz.
Três anos mais tarde, nasce a sua primeira filha, Alexandra. Onze anos depois, quando decorria o ano de 1949, tem uma segunda filha, Margarida. Nesse ano publica o seu primeiro livro, O mundo em que vivi, onde relata, de forma impressionante e comovente, a sua vida desde a infância até à altura em que teve de abandonar a Alemanha para fugir à perseguição dos nazis.
A partir desta data, passa a dedicar-se à tradução e à literatura infanto-juvenil.
É galardoada duas vezes com o Grande Prémio Gulbenkian de Literatura para Crianças: em 1981, pelo livro Na Quinta das Cerejeiras e, em 1984, pelo conjunto da sua obra dedicada às crianças.
Em 1989, recebe, pelo seu livro Silka, o Prémio Maçã de Ouro, atribuído pela Bienal Internacional de Bratislava.
A 9 de Junho de 1995, é feita Comendadora da Ordem do Infante D. Henrique.
Em 1998, recebe o Grande Prémio de Crónica, da Associação Portuguesa de Escritores pela sua obra À Flor do Tempo.
Colaborou em diversos jornais e revistas, portugueses e alemães, nomeadamente o Jornal de Notícias, O Comércio do Porto, Diário de Notícias, Público, Seara Nova, Jornal das Letras, Vértice, e o Neue Deutsche Literatur.
Traduziu do alemão para português, entre outros autores, Brecht, Anna Seghers, Erich Kästner e Max Frisch, para além do dinarmaquês Andersen. Fez, também, a tradução para português do Diário de Anne Frank. Vários autores portugueses foram por ela traduzidos para alemão.
Na sua obra, é notável a forma dolorosa com que exprime as angústias por que passou na sua vida, sendo vista como estrangeira e estranha no seu país natal e até na sua pátria adotiva.
Apesar de ser mais conhecida pela escrita destinada aos mais novos, a sua obra estende-se ao romance, ao conto e à crónica.
Obras
Literatura infantil
• Faísca Conta a Sua História, 1949
• A Flor Azul e outras Histórias, 1955
• Um Fidalgo de Pernas Curtas, 1958
• Um Artista Chamado Duque, 1965
• A Adivinha, 1967, teatro infantil
• O Quadro Roubado, 1976
• Beatriz e o Plátano, 1977
• João e Guida, 1977, teatro infantil
• O Príncipe Nabo, 1978, teatro infantil
• O Mosquito e o Sr. Pechincha, 1979
• A Minha Melhor História, 1979
• Bonifácio, 1980
• A Estranha História duma Tília, 1981
• O Expositor, 1982
• Na Quinta das Cerejeiras, 1984
• Estas Searas, 1984, contos e crónicas
• Silka, 1989
• Viagem com Wish, 1985
• Ana ou Uma Coisa Nunca Vista, 1986
• O Senhor Leopardo, 1987
• Ora ouve... Histórias Antiquíssimas, 1987, adaptação
• A Visita do Padrinho, 1989
• O rei Rique e Outras Histórias, 1989
Romances
• O Mundo em Que Vivi, 1943
• Histórias Quase Esquecidas, 1950, contos
• Grades Brancas, 1951, poemas em prosa
• Rio Sem Ponte, 1952
• Aqui Havia Uma Casa, 1955 – ilustrações de Pitum Keil do Amaral
• Retta ou o Ciúme da Morte, 1958, contos
• Sob Céus Estranhos, 1962
• Encontros no Outono, 1965, contos
• O Barco Afundado, 1979, contos
• Caminhos Sem Destino, 1991, contos
Crónicas
• Ida e Volta à Procura de Babbitt, 1958
• À Flor do Tempo, 1997