A motivação é o fulcro da atividade letiva |
O Auditório Maria Cecília Oliveira esteve repleto para
assistir à sessão dinamizada pelo professor catedrático e reconhecido docente e
investigador em ciências educativas, que, após
apresentação a cargo da Diretora do AEO, iniciou os trabalhos por referir que a
motivação é uma questão frequentemente mal colocada na abordagem dos problemas
escolares, dizendo que persistimos no “erro dramático” de a concebermos como um
pré-requisito.
Tal pode acarretar várias
consequências: as crianças só aprenderiam aquilo para que
estivessem previamente motivados, e isso equivaleria a reduzir profundamente o
quadro de promessas e esperanças que a sociedade deposita na educação escolar; aprofundaria
irremediavelmente as desigualdades sociais, pois à partida cada aluno traz
consigo universos socioculturais diversos para o campo escolar e seria muito
injusto que cada um só tivesse "resposta" educativa àquilo que estivesse
disposto a aprender; o acesso ao conhecimento codificado, a um conjunto de
competências-chave e à própria cultura estaria assim limitado aos
"encontros individuais aleatórios" que permitissem a aquisição do
gosto de aprender, da curiosidade e do acesso contínuo ao saber.
A motivação deve trabalhar a maior variedade possível de competências |
Para mais, os contextos atuais de
vida impedem a capacidade de captar a atenção dos alunos, tornando o trabalho
escolar numa tarefa cada vez mais árdua, pelo que se exige à escola a criação
de projetos inovadores capazes de agregar ideias e metodologias incentivadoras
do empenho construtivo dos alunos.
O Auditório Maria Cecília Oliveira teve uma plateia muito atenta aos trabalhos |
Em oposição, Joaquim Azevedo foi
muito crítico com o sistema educativo português, que persiste em manter o erro
legislativo da escolaridade obrigatória até aos dezoito anos. Isto porque a
considera agressiva e violenta, já que trabalha apenas 2 ou 3 competências na
formação dos alunos. Assim, destacou a importância da motivação no percurso
escolar dos alunos, como fundamental para tornar a escola num lugar de
aprendizagens mais justas e ajustadas às novas sociedades.
Considerou
o nosso sistema escolar profundamente injusto e, por isso, pouco democrático,
dado que deveria promover oportunidades ricas de aprendizagem para todos e
trabalhar com cada um, a seu modo, desenvolvendo ao máximo as suas capacidades.
É que há escolas, em Portugal, a realizar esforços enormes em busca desta
escola justa, reinventando a “gramática escolar". Pena é que esse não seja
o princípio norteador da ação política geral, pois assim sentir-se-iam
apoiadas, incentivadas e acarinhadas.
Apesar
de algum desencanto, considerou “nada estar perdido, pois talvez seja este o
tempo dessas escolas e professores se ligarem entre si, criarem redes de forte
cooperação interpares e edificarem e proporem à sociedade portuguesa novos
rumos para a educação escolar, de modo que nenhum cidadão seja deixado pelo
caminho, porque não está motivado”.
A concluir os trabalhos, Joaquim Azevedo agradeceu a
presença dos docentes do AEO e mostrou-se disponível a colaborar com este
género de iniciativas, porquanto promotoras da melhoria dos índices de sucesso de
todos, instando os docentes a distinguir a realidade da fantasia que permanece
associada às questões escolares, porque “o esforço civilizacional tem de ser
contínuo e sempre tendo em conta o papel imprescindível dos professores”, disse.
Texto e fotos de Hélder Ramos
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