quinta-feira, 13 de maio de 2021

Partilhas de humanidade, com André Fernandes, no dia da Lingua Portuguesa


Embora sempre me tenha sentido vocacionado para comunicar, tal não se traduziu na minha paixão pelo curso que me permitiu ter um canudo que, no mundo dos egos, legitimaria o meu caminho como comunicador. Ainda assim, houve determinadas aprendizagens que fiz na faculdade que me ficaram para sempre. Uma delas foi a de que o verbo “comunicar” tinha, nas raízes da sua origem latina, o significado “pôr em comum”. E é mesmo isso que tento fazer, de cada vez que comunico: pôr em comum tudo o que nos aproxime. É com essa intenção que visito as escolas do país. Foi sempre com essa intenção que visitei as escolas de Ovar.

Falar de amor é abrir a porta para falar de tudo. É de amor que falo, quando abro as palestras com a partilha do que vivi junto da minha Tia Guida, a mãe de alma que a vida me deu, para além da minha. Alguém que perdi para um cancro, mas que nunca perdi do amor com que a recordo e que nunca se perdeu do amor com que de mim se despediu. É o amor que nos une aos que já partiram. É o amor que nos une aos que ainda cá estão. Mesmo aos que nos são desconhecidos.

Prova disso é o que se passa sempre no segundo momento das palestras. Aquele em que os alunos se tornam protagonistas, com as perguntas e as partilhas que tenham para “pôr em comum”. São sempre esses os momentos que mais gosto. Aprendo muito com os estudantes que conheço pelo país. E confirmo, nas escolas de Portugal, que na escola da vida, independentemente das idades, todos somos professores e alunos. Quantos mestres de quinze anos (ou menos!) eu já não conheci, nas salas de aula que acolhem as minhas sessões? Que orgulho tenho neles. Esta juventude vai transformar o mundo, assim o Ministério deixe que as escolas acompanhem a necessidade que nela existe de se educar para, sobre e na emoção.

Nesse momento de perguntas e partilhas, a sensação de sermos estranhos dissipa-se. Somos todos humanos. E, como humanos que somos, todos nos conseguimos entender na empatia da cada pergunta e partilha feitas. É isso que o amor permite. Vermo-nos no outro como se o outro fôssemos nós mesmos. Até em situações que nunca vivemos. E do tema inicial do cancro e da perda brotam outros, porque o amor é inclusivo e tudo acolhe, sem julgar. Violência doméstica, violência no namoro, bullying, dilemas de realização profissional e mesmo reflexões espirituais encontram palco na curiosidade ou na sabedoria de jovens que, vezes e vezes sem conta, me provam que esta será a escola do futuro: a escola das emoções.

O que vivemos ali não é uma terapia... mas é muito terapêutico. Tem sido assim, nestes 7 anos de estrada. Foi assim, há uns dias, quando revisitei Ovar. 

E se para lá vou com a intenção de dar Amor... de lá venho sempre com o Amor que recebi a transbordar.

Partilhar cura. E quanto mais cedo melhor.

Obrigado, Escola Secundária José Macedo Fragateiro, por serem palco de partilhas de cura em amor. 



André Fernandes

( 05/05/21)

 

 



 



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